Eu acreditava. Na
verdade, sempre acreditei. Eu acreditava em romance, amor
eterno, amor da vida, gente que fica juntinha até depois do fim. Eu acreditava
em príncipes, princesas, contos de fadas, mundo cor de rosa. Sei,
eu sempre acreditei nessas coisas. Até que. Tem coisa que
não volta, por mais que a gente queira. Você pode até tentar voltar o disco,
repetir a música, insistir na letra, cantar o mesmo refrão por mil e um
minutos, fechar os olhos. Tem sentimento que não volta. Mesmo que você se
esforce, recorde, tente voltar à página, refrescar o coração. Alguns
sentimentos são bem pontuais: Chegam, esperam pra ver se devem ficar e decidem
partir ou continuar. Tem música que não volta. Tem som que não volta. Tem amor
que não volta. Tem momento que não volta. Tem palavra que não volta. Tem grito
que não volta. Tem silêncio que não volta. Tem beijo, tem abraço, tem
oportunidade, tem tempo, tem até vida que não volta. E tem a gente que se perde
no meio de tudo isso, com um coração cheio de sentimentos, uma cabeça cheia de
sonhos e uma realidade cheia de tristeza. Tenho visto coisas tão feias. Pessoas
pequenas. Histórias que parecem não existir. Mas elas existem, sim. Não faziam
parte do meu mundo encantado, mas existem. Não sou uma pessoa muito boa para
dar conselhos, pois sempre sigo o meu coração. A gente não pode esquecer que
tem cabeça, cérebro, que pensa, que a razão nos puxa pelo pé ao anoitecer. Mas
eu insisto em coisas que não fazem nenhum sentido, inclusive em esquecer que a
razão existe e nos bate forte na cara. Tenho aquela ideia boba de ter uma
casinha bonita, um trabalho que eu adore, alguma coisa que me inspire e um amor
que me entenda. Sou o tipo de pessoa que chega à frente do Poço dos Desejos,
fecha os olhos, e pede baixinho o que quer e em seguida atiro a moedinha na
água, acreditando fortemente naquilo tudo. Sou assim, desculpa. Tenho essa
anomalia emocional, essa deficiência no coração. Não
penso, só sinto. E isso me custa caro, muito caro. Eu dizia que andava vendo
coisas feias. Desculpa de novo, mas tem coisa que não cabe em mim. Não consigo
acreditar, desculpa, não consigo. Desculpa, não vou mais me desculpar nem
tentar ser o que não sou. Desculpa, eu sou assim, continuo do mesmo jeito, sigo
acreditando naquelas coisas tão bonitas, tão puras, tão minhas, tão suas . Mas
estou perdendo a fé no romantismo. Juro, eu to matando isso em
mim bem devagar (...)
Priscila Vaz (: